Jefferson Magno Costa

Conforme comentou um apologista cristão, "estas frontes iluminadas
pelos esplendores do gênio, aureoladas pelas glórias do saber,
consagradas e abençoadas pela memória dos homens, curvaram-se humildes
e reverentes ante o nome de Deus."
Com
muita razão, o filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) observou que
"pouca ciência afasta o homem de Deus, porém muita ciência a Deus o
conduz".
SÓCRATES CONFESSA SUA CRENÇA NA EXISTÊNCIA DE UM SÓ DEUS
Consideremos o período da história humana em que a filosofia atingiu o seu esplendor.
Entre
os gregos, precisamente em Atenas, existiu um filósofo pagão, cuja
agudeza de raciocínio e método de ensinar filosofia aos seus alunos o
colocou entre os mais profundos pensadores de todos os tempos:
Sócrates.
Por não ter concordado com a crença politeísta dos gregos, Sócrates
foi julgado e condenado à morte. (Aliás, este foi um dos motivos de sua
condenação). Mas eis o que esse pensador declarou sobre Deus:
"Acredito
na existência de um só Deus todo-poderoso, dotado de sabedoria e
bondade absolutas, provadas com a sublime harmonia do universo e com a
maravilhosa organização do corpo humano.
"Relativamente
à fé na existência de Deus, há nos diversos povos um acordo unânime
que faz a humanidade como que uma só família.
"A
fé religiosa é anterior a toda civilização; os viajantes não descobrem
povo algum sem lhe reconhecerem pelos menos um culto grosseiro; a
história vê por toda parte Deus associado geralmente tanto às alegrias
como às lágrimas da humanidade. Esta crença, quaisquer que sejam os
erros que a tenham obscurecido, longe de favorecer em si mesma as
paixões, combate-as; só pode ter, portanto, como origem, os princípios
que o próprio Deus gravou no espírito humano."
Isto
foi dito por um filósofo pagão! Foi diante de posicionamentos como
este que o filósofo cristão Clemente de Alexandria chegou a declarar que
a filosofia dos gregos não continha toda a verdade, "mas em todo caso
era um fragmento da verdade eterna".
Além
de Sócrates, dois outros filósofos tornaram a filosofia grega digna
das palavras elogiosas de Clemente. Seus nomes: Platão (429-347 a.C.) e
Aristóteles (384-322 a.C.)
PLATÃO TATEIA NAS TREVAS EM BUSCA DO CRIADOR
De
todos os filósofos pagãos que falaram sobre Deus antes da Era Cristã,
Platão foi o maior. O orador e teólogo francês Bossuet chamava-o de
"divino", e outros teólogos chegaram a compará-lo a Moisés.
"Era Moisés escrevendo em grego", diziam, cheios de admiração diante das obras desse célebre filósofo.
Nascido
em Atenas, Platão, ainda bem moço, tornou-se aluno de Sócrates, e foi
sob a influência e os ensinamentos desse célebre pensador grego que ele
se tornou filósofo, criando, entre outras coisas, o Idealismo —
sistema das ideias, onde a mais importante de todas elas é a ideia da
existência de Deus. Para nós, apologistas (defensores) do Cristianismo,
é muitissimamente importante sabermos o que a genialidade de Platão
descobriu sobre o Criador do universo.
Comparando a verdade à luz, e Deus ao próprio sol (séculos mais tarde,
o escultor e pintor italiano Miguel Ângelo escreveria: "O sol é a
sombra de Deus"), Platão declarou:
"Se
tu abres os olhos, vês a luz, mas o teu olhar seguinte eleva-se para
cima, para a origem de onde toda a luz é oriunda, para o sol; e quando
os olhos do espírito se abrem, vê-se a verdade; mas o segundo olhar
volta-se para onde nasce toda a verdade, para o sol dos espíritos, para
Deus."
Platão
costumava afirmar que existe na alma um ponto central, uma região onde
Deus se manifesta ao ser humano "tocando-o neste ponto e suspendendo-o
a Ele".
A isto Platão chamava "Voz da consciência" ou "lei natural gravada no
coração". Ele também dizia que todos os homens deveriam esforçar-se
para corrigir em si, mediante a contemplação da harmonia do Todo,
"esses movimentos pessoais e desordenados que a natureza humana semeou
no foco de nossa alma ao sermos gerados, a fim de que o contemplador
recobre sua primeira natureza e, através dessa semelhança divina,
torne-se apto a possuir finalmente a vida perfeita que Deus oferece aos
homens para o tempo presente e para a eternidade".
Ora,
não são perfeitamente visíveis, nas palavras desse filósofo pagão, a
doutrina do pecado original e a necessidade de o homem experimentar a
regeneração e voltar ao seu antigo bom relacionamento com Deus?
Se o mundo no tempo de Platão estava mergulhado no pecado, e a
humanidade (com exceção da Nação escolhida) procurava conviver
pacificamente com a idolatria e a corrupção moral, o que teria levado o
aluno de Sócrates a detectar entre os seus contemporâneos, quase 500
anos antes do nascimento do nosso Salvador Jesus Cristo, a necessidade
de regeneração, a não ser o Deus da justiça, da pureza e da verdade?
"Filosofar é amar a Deus", reconhece o grande filósofo.
ARISTÓTELES: DEUS É O MOTOR QUE MOVE O MUNDO
Nascido
em Estagira, Grécia, em 384 a.C, Aristóteles é o terceiro grande nome
da filosofia pagã. Mudando-se para Atenas aos 18 anos de idade, começou
a frequentar a escola de Platão, com quem aprendeu filosofia durante
20 anos.
Mais tarde tornou-se professor de Alexandre, o Grande, e fundou sua
própria escola. Suas idéias sobre Deus marcaram profundamente o
pensamento dos teólogos cristãos, surgidos cinco séculos após sua
morte. O gigantesco edifício de ciência e cultura criado por Aristóteles
permanece nos séculos e milênios como um monumento imperecível do seu
potente gênio.
Para
provar a existência de Deus, Aristóteles criou o argumento do motor.
Diz ele que tudo o que está em movimento é movido por outra coisa.
Tomemos o Sol como exemplo.
Ele está em movimento; portanto, outra coisa o movimenta. Essa coisa
que move o Sol, ou está também em movimento ou está imóvel. Se está
imóvel, o argumento de Aristóteles fica demonstrado, ou seja: que é
necessário afirmar a existência de algo que tudo move e que não é
movido por nada: Deus. Porém, se o que move o Sol está também em
movimento, isto significa que ele está sendo movido também por outra
força.
Aristóteles mostra que é impossível continuarmos recuando até o
infinito. Faz-se, portanto, necessário afirmar a existência do causador
de todos esses movimentos, que não é outra pessoa senão Deus. Ele é o
motor que movimenta tudo.
Alguém
já comentou que se há alguma verdade no ensino dos filósofos e dos
cientistas, deve ela vir do próprio Deus da verdade. Esse comentário
está de acordo com o que Aristóteles pensava sobre Deus.
No seu livro Metafísica, Aristóteles
admite a existência de um Deus distinto do mundo, um Deus vivo,
onipotente, Causa Primeira, motor imóvel (que move tudo e não é movido
por nada fora de si mesmo), vivente, eterno e perfeito; um Deus que é
soberano, infinitamente inteligente, invisível em si mesmo, mas visível
em suas obras, que a tudo governa por sua ação e por sua Providência,
como um general governa um exército.
Um
Deus justo, que castiga o homem livre e violador de sua lei imutável, e
recompensa com a felicidade, agora e no porvir, aos que se unem à
justiça.
Falando
dessa maneira sobre Deus, Aristóteles confirma aqui perfeitamente a
frase de Platão: "Todos os sábios não têm mais que uma voz."
Há uma filosofia universal, uma sabedoria natural e comum; ela é a
mesma em todos os homens dóceis à luz da razão; é ela que os conduz ao
reconhecimento da existência de Deus. Todos os pensadores de primeira
ordem chegam à esta conclusão: Deus existe. Porém, hoje estamos
inseridos no século do ateísmo.
Milhões de seres humanos vivem separados da fé universal na existência
de Deus: são como "estrelas errantes, para as quais tem sido
eternamente reservada a escuridão das trevas" (Judas v.13).
Vimos que os três maiores pensadores da filosofia grega (e, podemos
dizer, de toda a filosofia pagã antes do advento do cristianismo),
reconheceram a existência de Deus, apesar de não terem obtido o
conhecimento de sua essência, conforme o próprio Deus revelou a Moisés
no monte Horebe (Êxodo 3.14).
Porém, todos os grandes gênios da humanidade sofreram a influência de
uma espécie de iluminação natural acerca da existência de Deus. Através
da imensa capacidade de raciocínio de que foram dotados (a chamada razão humana), eles conseguiram obter sólidas provas da existência do Criador.
Fica evidenciado deste modo que, através do trabalho da mente humana
(fazendo-se uso da razão, portanto), o homem pode descobrir pelo menos
uma parte da verdade sobre Deus. É o que se chama "conhecimento
natural". Porém, esse conhecimento é incompleto.
Foi necessário que Deus se revelasse à humanidade através de sua Palavra para que todos pudessem conhecê-lo.
Essa revelação alcançou a sua plenitude no seu Filho Jesus Cristo.
Devemos considerar também o fato de que o "conhecimento natural" que o ser humano pode obter de Deus é insuficiente para levá-lo ao reconhecimento da necessidade de ele ser alcançado pela salvação proporcionada por Jesus Cristo.
Devemos considerar também o fato de que o "conhecimento natural" que o ser humano pode obter de Deus é insuficiente para levá-lo ao reconhecimento da necessidade de ele ser alcançado pela salvação proporcionada por Jesus Cristo.
Admitir a existência de Deus não é a mesma coisa que reconhecer a necessidade de salvação. Foi
o que faltou a todos os homens que alcançaram um conhecimento natural
da existência do Criador, sem terem passado a caminhar, a partir de
então, através da fé. É nesse aspecto que podemos constatar a grande
diferença entre os filósofos pagãos e os teólogos cristãos.
Jefferson Magno Costa